Homens Invisiveis
Foi escrito a partir de pesquisa extremamente peculiar: O Autor foi literalmente a campo e, por nove anos, trabalhou como gari na Cidade Universitária da Universidade de São Paulo. Com esteio nesta longa e curtida vivência, FERNANDO BRAGA DA COSTA apresenta e desenvolve o fenômeno da invisibilidade pública dos trabalhadores subalternos, cuja presença e existência, ao sentir dos professores e alunos daquele campus, confundia-se como mero item paisagístico. Coisa, e não, ser ("Um poste, uma árvore, uma placa de sinalização de trânsito, um orelhão, uma pessoa em uniforme de gari na atmosfera social: todos parecem valer a mesma coisa").
“Antônio e eu entramos no bloco de aulas. Os alunos estavam em intervalo, fora das salas: pelos corredores internos, no centro acadêmico, na lanchonete. Conhecia aquela gente: amigos de turma, colegas, veteranos companheiros do time de futebol, parceiros do tênis de mesa, os professores . Eu precisava naqueles instantes, era desviar daqueles que não me viam: era para isso que, frustrado, eu precisava agora estar atento. Já não esperava surpresa alguma dos outros comigo. Nenhum cumprimento, mesmo que discreto. Os olhares me tangenciavam. Mal – estar súbito: eu estava invisível”.
Neste momento o autor se colocou no lugar do gari, e de tantas outras pessoas que passam desapercebidos no nosso dia a dia. Outros trabalhadores, em outras funções também não passariam por isso? A cegueira de gente que não vê gente é traumática, causa angústia. A cegueira de gente que não vê gente dispara humilhação. A humilhação pode ser determinada como cegueira pública, pode ser determinada segundo a experiência de não aparecer como gente no meio de gente.
Fernando Braga da Costa varreu calçadas e ruas, limpou lixeiras, conversou com os verdadeiros garis e sofreu na pele a humilhação social a que estão expostos diariamente, relegados à condição de 'invisíveis' perante seus