Homenagem ao Papagaio Verde
AO PAPAGAIO VERDE
J
o
R
G
e
D
e
s
e
N
A
HOMENAGEM
AO PAPAGAIO VERDE
"LISBOA,
1928"
L'SDOA
EXPO'98°
1996.
Nécla d e Sena e Parque EXPO 90, S.
A.
A publicação do conto lIomenasem ao Papagaio Verde, extraido do livro
Os Gr.io·Capitães,
editado pelas Edições 70, rol gentilmente autorizada por Nécla de Sena.
Ilustração e Oesign
Luis Filipe Cunha
Tiragem
5000
exemplares
COl11llosiçao
Fotocompográrica
Selecção de Cor
Grarlsels
Impressão e Acabamento
Printer Portuguesa
Depõslto Legal
102 12.�/96
ISBN
972.-012.7-44-B
Lisboa, Setembro de 1996
Papagaio louro de bico dourado toma lá cerveja deixa ver ga606a.
Cantiga Popular
Era verde e velho. Pelo menos, antigo. E ocupa na minha memória - junto com uma galeria indistinta e confusa de gatos tigrados e "preparados» pelo amola-tesouras-e
-navalhas (mais tarde, esse primeiro mistério da minha infância passou a ser celebrado na Escola de Medicina
Veterinária, já com os requintes da assepsia), e todos cha mados "Mimosos» tão onomasticamente como os papas são
Pios - o mais arcaico lugar reservado a uma personalida de animal. Digo personalidade, e bem, porque ele a tinha, e porque foi mesmo, para lá das surpresas contraditórias
JORG E
OE
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das «pessoas grandes», tão caprichosas e volúveis, tão im previsíveis, tão ilógicas, tão hipocritamente cruéis, a re velação de um carácter. Não tinha nome: era o Papagaio, e parecia-me, porque falava, um ser maravilhoso. Depois, e a chegada desse outro eu recordo, meu pai trouxe das
Áfricas um papagaio cinzento. O papagaio por excelência passou a chamar-se o Papagaio Verde, e vivia de gaiola pendurada numa das varandas em que, por um tapume de madeira, estava dividida a varanda das traseiras da minha casa, cabendo uma parte à cozinha e outra à sala de jan tar. Uma das reivindicações políticas da minha infância foi a troca de