História
k ÉÖ ~= çКç== Éî á ÇÉ= á ê~ ê ÇÉî J o ëí~= e ëí¼á
Negra devoção
Apresentando os santos pretos como modelos de virtude e divulgando suas biografias, Igreja tinha por estratégia converter e disciplinar os escravos
Anderson José Machado de Oliveira
9/9/2007
“Lá vem o meu parente”, exclamou um velho negro ao avistar, numa procissão, a imagem de um santo de lábios grossos e cabelo encarapinhado. Quem registrou o episódio foi o missionário protestante norteamericano Daniel Kidder, em viagem ao Brasil no século XIX. Talvez para nós, atualmente, a ligação entre santos pretos e homens pretos seja algo natural, fruto de uma identificação quase que necessária. No entanto, o que nos parece corriqueiro hoje fazia parte, no período colonial, de uma estratégia da igreja católica no sentido de tornar cristãos os escravos africanos e seus descendentes. Mais ainda, discipliná-los para encarar a escravidão. Não seria exagero dizer que o reforço do incentivo às devoções foi um elemento fundamental da política oficial de evangelização. Os santos tornaram-se grandes aliados da Igreja para atrair novos devotos pois eram representações de pessoas comuns, por isso mais próximas dos fiéis – e, principalmente, obedientes a Deus e ao poder clerical. Nomeando e protegendo diversos lugarejos, suas imagens chegavam às localidades mais distantes, muitas vezes antes dos próprios padres. Contando e estimulando o conhecimento sobre a vida dos santos, a Igreja transmitia aos fiéis os ensinamentos que julgava corretos e que deviam ser imitados por escravos que em geral traziam outras crenças de suas terras de origem, muito diferentes das que preconizava a fé católica. A intensificação do tráfico de escravos, no século XVIII, transformara os africanos e seus descendentes no maior contingente populacional da Colônia. Para os proprietários, isto aumentava a capacidade produtiva e os lucros, mas trazia preocupações na mesma escala. Desde o final do século anterior, a guerra contra o