História - os 3 povos da república
Os três povos da República
A
primeira quinzena republicana, que vai de 1889 até a Revolta da Vacina em
1904, foi turbulenta. Houve assassinatos políticos, golpes de estado, revoltas populares, greves, rebeliões militares, guerras civis. Ausente da proclamação do novo regime, o povo esteve presente nesses anos iniciais. Mas as oligarquias conseguiram inventar e consolidar um sistema de poder capaz de gerenciar seus conflitos internos que deixava o povo de fora. Inaugurou-se um período de paz oligárquica, baseado em uma combinação de co-
JOSÉ MURILO DE
CARVALHO
é professor titular da
Universidade Federal do
Rio de Janeiro e autor de, entre outros, A Formação das Almas – o Imaginário da República no Brasil
(Companhia das Letras).
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optação e repressão, interrompido apenas em 1922, quando se deu a primeira revolta tenentista. O propósito deste texto é examinar a posição do
R EVISTA USP, São Paulo, n.59, p. 96-115, setembro/novembro 2003
Era uma combinação de proprietários rurais, predominantes no partido paulista, e representantes de setores médios urbanos, mais presentes no grupo do Rio de Janeiro. Povo mesmo, no sentido de trabalhadores rurais e urbanos, operários, artesãos, pequenos proprietários, funcionários públicos de nível inferior, empregados, não havia. A proclamação do novo regime foi feita pelos militares. A única manifestação popular no dia 15 de novembro deveu-se ao renegado José do Patrocínio, que proclamou a República na Câmara
Municipal.
No entanto, os conflitos entre os novos donos do poder, que se seguiram à proclamação, permitiram alguma participação popular durante os primeiros quinze anos do novo regime. Houpovo, em suas várias faces, durante esse apogeu do sistema oligárquico, quando a órbita da República mais se distanciou da democracia.
ve choques entre civis e militares, entre militares da Marinha e do Exército, entre republicanos presidencialistas e