Pessoa ortónimo
Em Fernando Pessoa, observa-se a presença de uma pequena humanidade, com diversas personagens que possuem personalidades distintas, designadas heterónimos. Mas há, também, uma personalidade poéticaativa que mantém o nome de Fernando Pessoa e, por isso, se designa de ortónimo.
Em Fernando Pessoa ortónimo, sem incluir a Mensagem, coexistem duas vertentes: a tradicional e amodernista. Há poemas mais tradicionais com influência da lírica de Garrett ou do sebastianismo e dosaudosismo, apresentando suavidade rítmica e musical, em versos geralmente curtos; mas a maior parteabre caminho a experimentações modernistas com a procura da intelectualização das sensações e dossentimentos. Desde a sua colaboração no Orpheu, há uma rutura. Fez um aproveitamento cuidado doimpressionismo e do simbolismo, abrindo caminho ao modernismo com o texto-programa do Paulismo (emImpressões do Crepúsculo), onde põe em destaque o vago, a subtileza e a complexidade; desenvolveuoutras experimentações modernistas com o Intersecionismo e com o Sensacionismo; revelou-se dialéticoprocurando a intelectualização das sensações e dos sentimentos.
Para Fernando Pessoa, um poema, como a arte, "é um produto intelectual" e, por isso, não acontece "nomomento da emoção", mas resulta da sua recordação. A emoção precisa de "existir intelectualmente", oque só na recordação é possível.
Há uma necessidade da intelectualização do sentimento para exprimir a arte. Ao não ser um produto diretoda emoção, mas uma construção mental, a elaboração do poema confunde-se com um "fingimento".
Na criação artística, o poeta parte da realidade mas só consegue, com autêntica sinceridade, representarcom palavras ou outros signos o "fingimento", que não é mais do que uma realidade nova, elaboradamentalmente graças à conceção de novas relações significativas, que a distanciação do real lhe permitiu.
O fingimento não impede a sinceridade, apenas implica o trabalho de representar, de