Fernando Pessoa Ortónimo
Fernando Pessoa ortónimo considera que o acto criativo só é possível pela conciliação das oposições entre realidades objectivas (físicas ou psíquicas) e realidades mentalmente construídas (artísticas, incluindo as literárias). Daí a necessidade de intelectualizar o que sente ou pensa, reelaborando essa realidade graças à imaginação criadora.
A unidade dos opostos sinceridade/fingimento não é mais do que a concretização do processo criativo, que é vital para o ser humano e que só é possível ao afastar-se da realidade., da qual parte, para percepcionar e produzir uma nova realidade. É nesta intersecção, mas também nas dicotomias do sentir/pensar e consciência/inconsciência, que o ortónimo procura responder às inquietações da vida e produzir a emoção estética através do poema, que "simula a vida", como afirma.
A consciência de efemeridade, porque o tempo é um factor de desagregação, cria o desejo de ser criança de novo, a nostalgia da infância como bem perdido e, uma vez mais, leva-o à desilusão perante a vida real e de sonho.
Ao não conseguir fruir a vida por ser consciente e ao não conseguir conciliar o que deseja ou idealiza com o que realiza, sente-se frustrado, o que traduz o drama de personalidade do ortónimo que, tal como os heterónimos, apresenta uma identidade própria diversa do autor Fernando Pessoa, conservando deste apenas o seu nome.
A poesia ortonímica ora segue, formalmente, os modelos da poesia tradicional portuguesa, ora procura experiências modernistas. Na vertente tradicional, com poemas de métrica curta, abundam aliterações e rimas internas, numa linguagem sóbria e intimista, mas de grande suavidade musical e rítmica. Na vertente de feição modernista, há uma ruptura que lhe permite inovações como a do paulismo, caracterizado pelo vago, pelo subtil e pelo sonho, com refinamento de processos simbolistas, ou o interseccionismo, que mistura diversas sensações numa só, que incorpora a sensação de realidades