historias e religioes
Ante o tema “religião” há três atitudes possíveis. A primeira é a da certeza incondicional afirmadora. Podemos ilustrá-la com o exemplo do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, que respondeu a alguém que havia lhe perguntado se acreditava em Deus: “Eu não creio, eu sei”. A segunda atitude é a da certeza incondicional negadora. Nós a encontramos em Karl Marx, quando evoca os dizeres de Prometeu no prefácio de sua tese de doutorado: “Numa palavra, eu odeio todos os deuses”. Para o jovem jurista, tal deveria ser o principal mandamento da filosofia, a sua “sentença contra os deuses celestiais e terrestres que não reconhecem a autoconsciência do homem como a maior das divindades”. A terceira atitude é a do lírico grego Simônides, cuja pitoresca história é relatada por Cícero em seu De natura deorum. Instado pelo tirano Hierion a dizer-lhe o que seria “Deus”, Simônides pediu um dia para refletir a respeito. Quando Hierion o procurou no dia seguinte, o sábio disse-lhe que precisaria de mais dois dias. A cada nova investida, um edido de prorrogação maior era feito. Até que o tirano, evidentemente irritado, exigiu uma explicação. Simônides disse-lhe: “Quanto mais eu penso sobre esta questão, mais obscura ela se torna”.
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Coleção “História &... reflexões”
O leitor certamente terá percebido que, a rigor, as duas primeiras atitudes não diferem uma da outra. De nossa parte – gostaríamos de admiti-lo desde já –, agrada-nos mais a cautela de Simônides. Optamos por fugir, tanto quanto nos foi possível, das afirmações categóricas, das certezas inabaláveis. Um estudo sobre as relações entre história e religião, desde que queira ser honesto, será sempre um experimento. O que significa dizer que este livro deve ser compreendido como um esforço de reflexão. E como uma tentativa de formular perguntas, mais que de trazer respostas.
Pequena crônica da religião, hoje
“A civilização corre um risco muito maior se mantivermos nossa atual atitude para com a