Historia
César Benjamim
Em eletricidade, o Brasil ocupa no mundo uma posição semelhante à da Arábia Saudita em petróleo. Graças a isso, mais de 90% de nossa capacidade de geração se baseia em duas coisas gratuitas, a água das chuvas e a força da gravidade. Bacias hidrográficas generosas, com centenas de rios permanentes e caudalosos, se espalham por grandes regiões - Sul, Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Norte - cujos regimes de chuvas são bem diferentes. Por serem rios de planalto, seguem trajetórias em que, de modo geral, a declividade é suave. Quando barrados, formam grandes lagos. São energia potencial estocada. É só fazer a água cair, passando por uma turbina, que geramos a eletricidade mais barata do mundo, de fonte renovável e não poluente. Se as barragens forem construídas em seqüência, ao longo do curso de um rio, a mesma gota d'água é usada inúmeras vezes, antes de se perder no oceano.
Como a quantidade de chuvas varia em cada ano, os reservatórios funcionam como uma espécie de poupança. A decisão de formá-la data de cinqüenta anos atrás. Foi impulsionada pela maior seca de nossa história, que durou de 1951 a 1956. Nunca, até hoje, se viu coisa igual. Cinco anos sucessivos com pouquíssima chuva em quase todo o país provocaram grandes transtornos e um pesado racionamento de energia. Tínhamos então 3.500 megawatts-hora (mWh) de potência instalada, sob controle do capital privado, principalmente estrangeiro, que investia pouco e travava uma permanente queda de braços com o Estado para obter aumentos de tarifas.
O Brasil da década de 1950 queria crescer. Precisava de energia. Em 1957, o Estado construiu a barragem de Furnas, para garantir o necessário aumento de oferta. Como a memória da grande seca era fresca, o moderno sistema elétrico brasileiro, que nasceu ali, foi dimensionado para suportar outra ocorrência como aquela, acumulando combustível - ou seja, água