Hereditariedade e ambiente
“A ilusão do Fausto: Manaus: 1890-1920”, livro de Edinea Mascarenhas Dias, discorre a cerca da cidade de Manaus nas três décadas em que esta se revelou uma cidade intensamente urbana constituída no apogeu do ciclo econômico da borracha. Neste período Manaus sofre um surto de urbanização até então ainda não visto, ocasionado em especial, pelo recebimento de intensos fluxos migratórios. A luz elétrica, os bondes, as avenidas, prédios e praças, não foram o que instigaram a autora pela escolha do tema, mas as contradições vividas na cidade, as condições de vida e de trabalho que se deram para receber com grande luxo uma elite extrativista e altamente favorecida, mas uma cidade que viveu momentos de conflitos, e com isso a autora divulga Manaus, sem o caráter fabuloso vivido na época, “ desmontando um discurso mitificador sobre a aparência do “ fausto” do período da borracha” (p. 17).
Para tanto, Dias divide a obra em duas partes. Na primeira parte (A Cidade do Fausto), inclui dois capítulos “Como se improvisa uma cidade nos trópicos” e “Aldeia modernizada – constituição das políticas urbanas”. A segunda parte (A Falácia do Fausto) contempla um capítulo, o “Espaço urbano – preservação ou segregação?”. As duas partes são divididas por uma iconografia que revela um pouco daquilo que constituiu o urbano da época: comércio, automóveis, serviços, trabalhadores, arruamentos, praças, pontes e alguns documentos utilizados na burocracia vigente.
Em “A cidade do Fausto” a autora fala da modernidade em Manaus que substitui a madeira pelo ferro, o barro pela alvenaria, a palha pela telha, o igarapé pela avenida e a carroça pelos bondes elétricos, e a partir daí “[...] destrói antigos costumes e tradições, civiliza índios transformado-os em trabalhadores urbanos [...]” (p. 29).
Anterior ao auge da borracha, a vida se dava em torno do centro, conviviam juntos ricos e pobres, brancos e índios, mamelucos e mestiços.