Heraclito e parmenides
Izabela Bocayuva* izabelabocayuva@gmail.com
Nós os pósteros devemos ter pensado meditadamente antes a sentença de Anaximandro, para poder refletir sobre o que Parmênides e Heráclito pensaram. Assim caduca o equívoco segundo o qual a filosofia de um foi uma doutrina do ser e a do outro uma doutrina do devir. (Heidegger – A sentença de Anaximandro)
Resumo O artigo mostra como os pensamentos de Parmênides e de Heráclito estão em sintonia, na medida em que ambos denunciam o caráter ilusório da compreensão comum, constantemente cega ao que, aparentemente invisível, justamente os conduz a investigar a respeito da natureza (perì phýseos). Habitualmente não vemos aquilo que Parmênides vê, ou seja, que a verdade é que só há o ser e que o não-ser absolutamente não há. Não percebemos que tudo o que, de algum modo, nomeamos não-ser já é, e, portanto, nesse sentido, o não-ser é somente uma ilusão. Não entendemos que a totalidade do ser sendo unicamente o que é, sendo sempre o agora – não este ou aquele agora determinado – é necessariamente imóvel porque abarca tudo. Tampouco vemos o que Heráclito indica, isto é, que a verdade é que só há uma e a mesma conjuntura sempre dinâmica do jogo dos contrários, uma guerra originária, e que a habitual percepção dos entes particulares em isolamento uns em relação aos outros é também, por sua vez, apenas ilusória. Só vemos cada coisa em sua particularidade isolada, como se cada uma pudesse ser algo acabado e fixo. Esses dois pensadores operam no plano da inteligibilidade do princípio enquanto tal, para além da compreensão
* Professora do Departamento de Filosofia da UERJ. Recebido em 20/12/2009 e aprovado em 13/02/2010.
kriterioN, Belo Horizonte, nº 122, Dez./2010, p. 399-412.
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Izabela Bocayuva
imediata do homem comum. Ainda que variem as perspectivas desde as quais cada um nomeia a dimensão que permanece invisível ao homem que não filosofa, ambos afirmam a unidade e