Guerras eua
I – A rebelião colonial 1 .
A Guerra da Independência dos E.U.A. (1775-1783) foi um conflito de grande importância nas décadas que precederam o eclodir da Revolução Francesa de 1789. Primeira guerra de “libertação nacional”, dos tempos modernos, serviu de modelo e exemplo aos movimentos anti-coloniais da América Latina dos finais do século XVIII e princípios do século XIX. Contudo, os acontecimentos americanos dos anos 70 e 80 de setecentos influenciaram igualmente a Europa, ganhando uma dimensão universal nos dois séculos seguintes e tornaram-se um marco fundamental da época Contemporânea. A “revolução” americana exprimiu as aspirações das elites intelectuais do Iluminismo europeu e americano do século XVIII. O apelo, expresso na Declaração de Independência dos E.U.A. (4 de Julho de 1776), corporizou as aspirações à emancipação dos povos e ao triunfo dos direitos inalienáveis do homem, nomeadamente o direito à vida, liberdade, felicidade e segurança tipicamente lockeanas ! A linguagem do direito natural não impedia, no entanto, a referência a Deus e à Divina Providência típica da predestinação calvinista e anunciadora da futura ideia do destino único e excepcional do povo americano
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. A ambiguidade intrínseca da revolta americana
resultava do facto de se assumir como um movimento independentista em nome dos direitos dos povos contra um ministério opressor – o governo da Coroa Britânica -, mas simultaneamente recusar esses direitos aos índios e africanos. Apesar deste facto foi sem dúvida um marco na história europeia, americana e mundial do século XVIII, inserido como evento maior na longa “Revolução Atlântica” que dominou o Ocidente entre os anos 60 e 90 de setecentos. Pela primeira vez assiste-se fora da Europa, num território pretensamente
1 O presente artigo faz parte duma investigação mais vasta sobre a visão dos