Guerra de canudos
No arraial de Antônio Conselheiro, em 1896, o Brasil atingiu finalmente a idade da razão
Ao contrário do que se imagina, o momento em que alguém se torna independente não ocorre necessariamente quando a criatura se desliga da custódia de seus pais ou tutores. Desprendido da tutela de pessoas maduras, o jovem pode comprometer a independência recém-adquirida submetendo-se a más influências, vícios deletérios ou ilusões quanto a suas reais posses, sua condição ou seus potenciais. Nesse sentido, a verdadeira autonomia só se consolida com a chegada da idade da razão, assinalada pelo autoconhecimento, pelo senso de responsabilidade e pela capacidade de projetar um futuro com clareza de espírito, fazendo justiça à própria história de vida. A independência é muito mais um fato interno que externo, uma conquista da mente mais que qualquer símbolo concreto, título, data ou distintivo.
Se percorrermos a História do Brasil em busca de um momento que indique o advento dessa idade da razão, paradoxalmente iremos encontrá-lo em meio a uma das mais dramáticas crises de insanidade que se abateu sobre este jovem país. A Guerra de Canudos envolveu num conflito bizarro personagens que se viam como completos estranhos, embora cada qual fosse parte da mesma nação. Foi como um inesperado acesso de esquizofrenia que expunha, fragmentados em diferentes identidades conflitantes, os vários elementos históricos que compõem o corpo da sociedade brasileira. Com a crise vieram o diagnóstico e a proposta de uma terapia para redimir os males que retardavam o amadurecimento do país, configurados no relato épico de Euclides da Cunha, Os Sertões.
As origens do conflito revelavam as dificuldades do Brasil, preso ao padrão de uma economia agrária de modelo colonial, em se adaptar às dinâmicas da modernização no contexto internacional. Em meados do século XIX grandes acontecimentos transformaram o mercado mundial. A industrialização deu seus passos decisivos, com o