Grotowski e Antropologia
Ana Canalli, Alexandre Bettencourt, Camila Ribeiro, Davi Silva, Marco Bonazzoli, Yo Sakanaka
Seguindo os passos de Grotowski, e inspirados por ele, pensamos aqui: o que poderia ser uma
“antropologia pobre”? Apresentamos cinco reflexões, autônomas e, no entanto, ao mesmo tempo indiferenciadas e indiferenciáveis.
1) Antropologia desnudada
O empreendimento de Grotowski de pensar a especificidade do teatro em relação às outras artes leva-o a agir de forma semelhante à Descartes. Ao eliminar tudo aquilo que é supérfluo, que suscita dúvidas, sobra apenas o irredutível: no caso de Descarte, a mente autoconsciente; no caso de
Grotowski, a relação entre ator e público. Os sentidos, assim como o cenário, texto, figurino e maquiagem, são complementares e, por isso, podemos pensar um teatro (e uma ciência) sem eles.
Tal procedimento, que Grotowski entende como uma via negativa de reflexão, pode iluminar a antropologia. Se nos fizermos perguntas semelhantes a que fez o polonês (o que é a antropologia?
No que ela se diferencia das outras ciências?), podemos chegar a conclusões também semelhantes.
Consideramos que o irredutível para a antropologia seria a relação entre pesquisador e interlocutores, que dialogam no campo. Ou seja, é possível pensar antropologia sem textos, sem academia (por que não?), sem caderno de campo, mas não sem o contato primordial e fecundo da experiência no campo.
2) Desnudamento do antropólogo
Um “empobrecimento” geral, no plano da disciplina da antropologia, reflete-se e se realiza no seu ator, o antropólogo. Conforme colocamos acima, o ator deve ir ao encontro com o interlocutor, no campo, também despido daquilo que o constrange. Isso não significa somente a eliminação das pré-noções e preconceitos. Isso é pregado na antropologia desde os tempos do outro polonês, fundador da prática, tão cara a nós, da convivência com os “nativos”. Inspirar-se por Grotowski para uma antropologia pobre implicaria em ir mais além: