Mestres teatrais
Os Pais-Mestres do Ator Criador
Renato Ferracini
Lume
Stanislavski
O filósofo Denis Diderot escreveu, no século XVIII, um tratado denominado “O Paradoxo do Comediante”, onde colocou alguns pontos básicos sobre a arte de representar / interpretar. Para ele o ator deveria abominar toda e qualquer sensibilidade ou emoção no ato da representação / interpretação, pois a emoção, dizia Diderot, é da personagem e não do ator. Nesse caso, o ator não deve ser mas parecer ser.
Com esse tratado, Diderot vai abrir um ponto polêmico, inaugurando uma discussão, dentro do contexto cênico, e mais especificamente, da arte de ator, que a partir de então se estabeleceu com mais afinco: razão x emoção, corpo x alma. Na verdade, essa discussão, do ponto de vista filosófico, foi inaugurada muito antes, no
Séc. XVII com Descartes. Do ponto de vista cênico, será retomada, no debate entre os diferentes pesquisadores no Séc. XIX e XX.
Se Diderot foi o primeiro a escrever um tratado sobre o atorcomediante, Constantin Stanislavski foi o primeiro a querer estabelecer um método preciso e elaborado para o trabalho do ator. O trabalho de
Stanislavski pode ser dividido em duas grandes partes: o trabalho do ator sobre si mesmo, e o trabalho do ator sobre a personagem. O primeiro é condição básica para o segundo.
No trabalho o ator deve sempre começar de si mesmo, da própria qualidade natural, e então continuar de acordo com as leis da criatividade (…). A arte começa quando não existe papel, existe somente o “eu” em uma dada circunstância da peça (…). O ator realmente atua e vive seus próprios sentimentos: ele toca, cheira, ouve, vê com toda a finesse de seu organismo, seus nervos; ele verdadeiramente atua com eles. (Stanislavski in
Toporkov s.d.:156)
Revista do Lume – Pág. 63
Assim Stanislavski propunha ao ator representar / interpretar sempre com sua própria pessoa, procurando uma situação equivalente à da personagem. O ator não