Greves e sindicatos
Marcelo Badaró Mattos1
RESUMO
Este artigo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa sobre as greves e a repressão aos sindicatos no Rio de Janeiro entre 1954 e 1964. Seu objetivo central é rediscutir a relação entre Estado, empresários e trabalhadores organizados no período em questão a partir da dimensão de conflito explicitada nos momentos de greve. Pretendeu-se também apresentar dados mais completos que os anteriormente disponíveis sobre o total e as características das greves, bem como explorar o potencial da documentação policial, aberta à consulta nos últimos anos.
Palavras-chave: Sindicalismo; greves; polícia política. O movimento sindical costuma ser apontado como um dos protagonistas do período imediatamente anterior ao golpe de 1964, mas as dimensões efetivas de seu poder de mobilização para ação coletiva organizada das quais as greves são um bom indicador ainda motivam polêmicas. Porém, se muita atenção foi dada aos discursos e políticas estatais de aproximação com os trabalhadores ora definidos pela categoria populismo, ora abarcados na rubrica do trabalhismo ainda parece insuficiente o acúmulo de discussões sobre a ação estatal repressiva que incidia sobre as organizações sindicais, da qual a polícia política é um instrumento dos mais importantes.
Para a pesquisa que embasou este artigo, lançamos mão de dois grandes conjuntos de fontes: de um lado, os registros jornalísticos das greves na imprensa (jornais diários e imprensa partidária ou sindical); de outro, os dossiês policiais sobre greves, sindicatos e temas correlatos armazenados nos arquivos das polícias políticas recolhidos ao Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. GREVES
Ao iniciar a discussão sobre greves no Brasil das décadas de 1950 e 1960, é preciso constatar que as análises correntes assentam-se sobre uma dificuldade fundamental: há uma carência de levantamentos quantitativos confiáveis