Grande Sertão: Veredas, “lugar de memória” e ponte para a história de uma Minas Gerais esquecida
Resumo: Este artigo visa discutir a possibilidade de abordar uma obra literária -
Grande Sertão: Veredas, clássico de João Guimarães Rosa - como “lugar de memória” e ponte para penetrar na história do sertão de Minas Gerais, região quase sempre colocada à parte ou marginalizada na produção acadêmica. Retomando criticamente as ideias de alguns autores que contribuíram para a teorização sobre as relações entre memória e história, procuro apontar caminhos interpretativos e possibilidades de utilização da referida obra na ciência histórica.
Palavras-chave: Memória. História. Literatura. Guimarães Rosa. Minas Gerais.
Introdução
Memória e história seriam, de acordo com o que colocam alguns estudos no campo das ciências humanas, diferentes mecanismos usados para evocar o passado. Contudo, pretendo mostrar, neste artigo, como os chamados “lugares de memória” – museus, objetos, obras de arte, dentre outros – podem constituir fatores - 2 -
Revista Vozes dos Vales da UFVJM: Publicações Acadêmicas – MG – Brasil – Nº 02 – Ano I – 10/2012
Reg.: 120.2.095–2011 – PROEXC/UFVJM – ISSN: 2238-6424 – www.ufvjm.edu.br/vozes de interação entre essas duas dimensões, situando-se no centro da polêmica discussão que ora aproxima e ora afasta a memória e a história.
Uma das primeiras tentativas de se pensar a relação história-memória, partiu do sociólogo Maurice Halbwachs; mas ele o fez opondo termo a termo os dois universos. Halbwachs propôs que a memória seria tudo aquilo que flutua, o concreto, o vivido, o momentâneo, o múltiplo, o sagrado, a imagem, o afeto..., enquanto que a história se caracterizaria por seu caráter essencialmente crítico, conceitual, problemático e laicizante. Uma distinção radical a esse ponto nos leva a conceber a história apenas a partir do ponto onde acabaria a memória, ou seja, a história seria sempre, uma reconstrução, uma recriação de algo