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140 páginas
OS SERTÕES DO LESTE"Terra socialmente formada no Império,
depois do grande surto setecentista,
com cafezais sem fim, lavouras ricas,
mas igrejas pobres, cidades monótonas,
sem a comovente beleza barroca das outras.
Terra sem poetas, sem lendas antigas,
sem mártires de velhas causas mortas."
AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO
Um Estadista da República
INTRODUÇÃO
OS DESBRAVADORES ARROJARAM-SE aos perigos das Áreas Proibidas, a partir dos contrafortes da Mantiqueira. Conheceram a selva inóspita, cravaram os mourões nos vales e encostas. Nada impediu o avanço rio acima: nem a correnteza, nem o sumidouro. A região pouco a pouco é devassada, a conquista se faz pedaço por pedaço.
Que era a Mata de então? Floresta violada apenas pelos rios. Indígena e mistério. Nela cresceriam fogos e fazendas. E na paisagem sem rota foram por fim sepultados os pioneiros. Gigantes fundiam-se à terra, deitando raízes nos rincões e nos currais.
Longe estava a Corte, e o anseio de liberalismo revela-se nas Gerais. Em Santa Luzia, na aldeia banhada pelo rio das Velhas, extinguia-se o sonho dos chimangos. Levas então desceriam. Rumava para o Leste a gente sofrida da derrota política. Carregava, na fuga de represálias, haveres e família.
Por todo o canto brotaram povoados. A casaria, como serpente, acompanhava as águas ao acaso. Na fazenda, próximo à sede, erguera-se a capela. Sem o ouro das Minas, no rústico da selva, é rancho improvisado, ara sem atavio, apenas a mesa com a parafernália jacente. Apagava-se, na arquitetura e nos interiores, o barroco das mãos crispadas e faces contorcidas. Tudo é tosco e modesto.
Transpunha-se a metade do Oitocentos. Grupos começaram a chegar do Paraíba. Filhos e netos de mineiros regressavam à província paterna. Os cafezais haviam exaustado o solo fluminense e, tragando terras, avançavam a dentro.
Do encontro de sedentários e adventícios nasceram as cidades da Mata. Minas de áurea terra, de