Gramsci e paulo freire
DA LIBERTAÇÃO À HEGEMONIA:
FREIRE E GRAMSCI NO PROCESSO DE DEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL
Giovanni Semeraro
RESUMO
As lutas populares que se desencadearam no Brasil desde os anos 1960 até hoje podem ser caracterizadas por dois grandes paradigmas: “libertação” e “hegemonia”. A “libertação” foi a tônica predominante nos anos 1960 e 1970. A “hegemonia” tem sido a palavra de ordem ao longo dos anos 1980 e 1990. A primeira, representada particularmente por Paulo Freire, e a segunda, tendo em Antonio Gramsci sua referência maior, foram se entrelaçando e tornaram-se inseparáveis no desenho de um projeto alternativo de sociedade. Neste artigo, apresenta-se uma análise crítica de seus significados em decorrência dos dez anos da morte de Paulo Freire e dos 70 da morte de Gramsci. O texto que segue, além de percorrer os significados, as diferenças e o entrelaçamento de “libertação” e “hegemonia” em seu contexto histórico e social, apresenta uma reinterpretação dos dois paradigmas ante as mudanças políticas e culturais atualmente em curso no Brasil e na América Latina. PALAVRAS-CHAVE: hegemonia; libertação; política.
I. INTRODUÇÃO Para retratar a história política dos movimentos populares brasileiros na segunda metade do século passado, pode-se partir da análise de dois grandes conceitos: “libertação” e ‘hegemonia”. A “libertação” foi a tônica predominante nos anos 1960 e 1970. A “hegemonia” tem sido a palavra de ordem ao longo dos anos 1980 e 1990. A primeira, representada particularmente pelo pensamento de Paulo Freire, expressava os anseios e as lutas dos que queriam se libertar da ditadura (1964-1984) e da história de colonialismo imposto ao Brasil. A segunda, tendo Antonio Gramsci como referência, passou a significar o projeto das forças populares que com o fim da ditadura orientavam seus esforços para a construção de uma democracia social e para a conquista da direção política. As duas, entre os anos 1960 e