graduação
NORBERTO BOBBIO
Capítulo I – A liberdade dos antigos e dos modernos
A existência atual de regimes denominados liberal-democráticos ou de democracia liberal leva a crer que o liberalismo e democracia sejam interdependentes. No entanto, a relação entre eles é extremamente complexa, e tudo menos linear. Na acepção mais comum dos dois termos, por “liberalismo” entende-se uma determinada concepção de Estado, na qual o Estado tem poderes e funções limitadas, e como tal, se contrapõe tanto ao Estado absoluto que hoje chamamos de social; por “democracia” entende-se uma das várias formas de governo que o poder não esta nas mãos de um só ou de poucos, mas da maior parte. Contrapondo-se as formas autocráticas, como a monarquia e a oligarquia.
Um Estado liberal não é necessariamente democrático: ao contrário, realiza-se historicamente em sociedades nas quais a participação no governo é bastante restrita, limitada às classes possuidoras. Um governo democrático não da vida necessariamente a um Estado liberal: ao contrário, o Estado liberal clássico foi posto em crise pelo progressivo processo de democratização produzido pela gradual ampliação do sufrágio até universal.
A contraposição entre liberdade dos modernos e liberdade dos antigos foi defendida por Benjamin Constant, o qual afirmou que o objetivo dos antigos era destruição do poder político entre todos os cidadãos de uma mesma pátria. Enquanto o objetivo dos modernos é a segurança nas fruições privadas: liberdade às garantias acordadas pelas instituições. Constant considerava que esses dois objetivos estavam em contraste entre si. A participação direta nas decisões coletivas termina por submeter o individuo à autoridade do todo e por torna-lo não livre com privado; e isso enquanto a liberdade do privado é precisamente aquilo que o cidade exige hoje do poder público.
Constant citava Rousseau afirmando que este havia inventado uma república na qual o poder soberano, uma vez