Graduando

A NOVA CALIFÓRNIA
LIMA BARRETO

Lima Barreto (1881-1922) está entre os mais importantes romancistas brasileiros, por obras como Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), Numa e a Ninfa (1915), Vida e Morte de Gonzaga de Sá (1919) e Clara dos Anjos (1923-24). O seu Triste Fim de Policarpo Quaresma (1914), é considerado um marco pré-modernista. Crítico mordaz da burocracia e da bacharelice da sociedade brasileira, Lima Barreto infundia em seus romances e contos a energia dos descontentes — e ele próprio, um mulato filho de escravo, cresceu na pobreza e sofreu preconceito —, que dirigem um olhar incisivo e irônico à sociedade e suas elites. Lima Barreto foi também um dos editores da revista Floreal (1911), de vida curta, e escreveu para a imprensa de esquerda. Seu conto mais famoso é o gozador “O Homem que Sabia Javanês” (1911), muito republicado, mas este “A Nova Califórnia” (1910) apareceu em retrospectivas importantes como Antologia Escolar de Contos Brasileiros, organizada por Herberto Sales, o mais-vendido Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século (2000), organizada por Ítalo Moriconi, e Ficção: Histórias para o Prazer da Leitura (2007), organizada por Miguel Sanchez Neto, e dá título a uma coletânea póstuma. Foi também adaptado para os quadrinhos por Francisco Vilachã. Uma violenta crítica à ganância e à precariedade dos valores da sociedade, o conto revisita o tema da Pedra Filosofal — o objeto derradeiro da busca dos alquimistas, substância capaz de transformar matéria comum em ouro —, mas o homem que enfim a descobre seria um químico de renome internacional, que recebe em casa livros e revistas técnicas. No contexto, sua disposição benemérita parece constratar o poder transformador da ciência com o atraso moral da humanidade. O conto é fronteiriço com o horror, ou pode ser lido simplesmente como sátira. I Ninguém sabia donde viera aquele homem. O agente do Correio pudera apenas informar que acudia ao nome de Raimundo Flamel, pois assim era subscrita