Graduanda
Dizem que um autor deveria evitar qualquer contato com a psiquiatria e deixar aos médicos a descrição de estados mentais patológicos. A verdade, porém, é que o escritor verdadeiramente criativo jamais obedece a essa injunção. A descrição da mente humana é, na realidade, seu campo mais legítimo; desde tempos imemoriais ele tem sido um precursor da ciência e, portanto, também da psicologia científica (Freud, 1906 – 7, p. 50). Este trabalho pretende assinalar as possibilidades de uma interseção entre psicanálise e literatura. É com a psicanálise de Sigmund Freud (1856-1939) e a literatura de Machado de Assis (1839-1908) que vamos procurar desenvolver esses pontos de interseção. Pode-se dizer que ambos fizeram literatura (FREITAS, 2001). A história de vida de Machado de Assis beira o incrível: um menino pobre, do morro, em um Rio de Janeiro repleto de doenças, consegue sobreviver, construir uma sólida formação intelectual, fundar a principal instituição literária no Brasil e, mais de cem anos depois de sua morte, ser reconhecido como um dos principais autores do seu país e um dos gênios da literatura mundial. Uma prova de que a arte, quando bem feita, consegue manter acesa a chama de uma vida (MASSA, 2009).
De que forma esse autor do século XIX consegue atrair leitores tantos anos depois, em um contexto social, econômico e cultural absolutamente diferente? Talvez a resposta esteja no fato de que Machado de Assis foi um exímio observador dos percalços, alegrias e armadilhas da condição humana, visto que ser humano implica em amar, trair, ser traído, desejar, sofrer, errar. (FREITAS, 2001).
A obra de Machado de Assis pode ser dividida em dois momentos bem distintos: as obras da juventude, com forte influência do Romantismo e seu progressivo amadurecimento, até chegar ao Realismo de suas obras da maturidade. Entre estas, as mais destacadas e consideradas são Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891) e Dom Casmurro (1899). Se