Gestão 3 setor
Armando de Melo Lisboa*
* Professor no Depto. de Economia da UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina. Co-fundador do GT de Economia Solidária de SC, consultor de diversas organizações da sociedade civil. Publicou inúmeros artigos nas áreas de economia política, social e ecológica e em ciências da religião, além de alguns livros em co-autoria.
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Proposta No 97 Jun/Ago de 2003
A economia solidária (ES) hoje emergente não é uma forma conjunturalmente compensatória diante da crescente precariedade da condição humana, mas alenta uma outra economia sintonizada com as profundas transformações contemporâneas que configuram um ethos civilizatório superior ao do capital. Para melhor compreender seu potencial enquanto estratégia estruturante de um outro desenvolvimento socialmente humano e ecologicamente sustentável veremos primeiramente como o Brasil se inseriu no padrão de desenvolvimento capitalista hegemônico. Em seguida, situando-a dentro do quadro da nossa matriz civilizatória e das mutações atuais, procuraremos explicitar sua identidade.
Josué de Castro e o debate sobre o desenvolvimento brasileiro
A partir de meados do séc. XX o Brasil adentrou tardiamente, mas em passos rápidos, para o mundo industrial pela via mimética das políticas substitutivas de importação gestadas pela CEPAL (criada em 1948), instalando uma forma mais sutil de dependência. A hegemonia da idéia do desenvolvimento fez dela “a metáfora fundamental da nossa história desde o fim da Segunda Guerra Mundial até os dias atuais”, proclamou Guerreiro Ramos. Encantados pelo moderno, o fascínio pelo desenvolvimento acelerado foi avassalador, a ponto de fazer conviver dentro do ISEB, agência brasileira constituída em 1955 para conceber e difundir a ideologia do nacional-desenvolvimentismo, pensadores das mais distintas correntes ideológicas, dos assumidamente vinculados à burguesia, aos marxistas e identificados com as classes trabalhadoras.