geografia
Olavo Bilac
O neto: Vovó, por que não tem dentes? Por que anda rezando só. E treme, como os doentes Quando têm febre, vovó? Por que é branco o seu cabelo? Por que se apóia a um bordão? Vovó, porque, como o gelo, É tão fria a sua mão? Por que é tão triste o seu rosto? Tão trêmula a sua voz? Vovó, qual é seu desgosto? Por que não ri como nós? A Avó: Meu neto, que és meu encanto, Tu acabas de nascer... E eu, tenho vivido tanto Que estou farta de viver! Os anos, que vão passando, Vão nos matando sem dó: Só tu consegues, falando, Dar-me alegria, tu só! O teu sorriso, criança, Cai sobre os martírios meus, Como um clarão de esperança, Como uma benção de Deus! facebooktwittergoogle+ Deixa o olhar do mundo
Olavo Bilac
Deixa que o olhar do mundo enfim devasse Teu grande amor que é teu maior segredo! Que terias perdido, se, mais cedo, Todo o afeto que sentes se mostrasse? Basta de enganos! Mostra-me sem medo Aos homens, afrontando-os face a face: Quero que os homens todos, quando eu passe, Invejosos, apontem-me com o dedo. Olha: não posso mais! Ando tão cheio Deste amor, que minh´alma se consome De te exaltar aos olhos do universo... Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio: E, fatigado de calar teu nome, Quase o revelo no final de um verso. facebooktwittergoogle+ PUBLICIDADE
O Pássaro Cativo
Olavo Bilac
Armas, num galho de árvore, o alçapão E, em breve, uma avezinha descuidada, Batendo as asas cai na escravidão. Dás-lhe então, por esplêndida morada, Gaiola dourada; Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos e tudo. Por que é que, tendo tudo, há de ficar O passarinho mudo, Arrepiado e triste sem cantar? É que, criança, os pássaros não falam. Só gorjeando a sua dor exalam, Sem que os homens os possam entender; Se os pássaros falassem, Talvez os teus ouvidos escutassem Este cativo pássaro dizer: "Não quero o teu alpiste! Gosto mais do alimento que procuro Na mata livre em que voar me viste; Tenho água fresca num recanto escuro Da selva em que nasci; Da mata