Geografia do poder
Crítica da geografia política clássica
I - Nascimento da geografia política
Paradoxalmente, quanto mais jovens as ciências do homem, mais tentadas elas são a estabelecer sua genealogia (estudar a origem e evolução). Os historiadores das ciências do homem se permitem esforços muitas vezes consideráveis para buscar no passado as origens dessas disciplinas. Por muito tempo, todos esses discursos históricos tiveram por objetivo antes mostrar a existência de uma continuidade do que fundamentar a identificação de "momentos" epistemológicos.
A geografia política não escapou dessa tradição e descobriu, de Heródoto a Ratzel, uma infinidade de ancestrais, tais como Platão, Aristóteles, Botero, Bodin, Vauban, Montesquieu, Turgot etc., para só citar alguns que, por uma razão ou por outra, foram chamados a testemunhar a antiguidade do projeto político em geografia.
Muitos epistemólogos, a partir de Piaget, não reconhecem um estatuto epistemológico para a geografia. Piaget não considerava a geografia humana uma ciência "nomotética" (Generalista). O que surpreende ainda mais porque a geografia, da mesma forma que a economia ou a demografia, procura descobrir "leis".
Somos encorajados nesse caminho pela geografia política, ela própria fundada de fato, em toda a sua amplitude, por Ratzel, em 1897. Todo o projeto ratzeliano é sustentado por uma concepção nomotética, e pouco importa, nesta fase da análise, saber se ela-foi ou não bem-sucedida. A obra de Ratzel é um "momento epistemológico", quer se trate de sua Antropogeografia ou de sua Geografia política.
Ratzel está num ponto de convergência entre uma corrente de pensamento naturalista e uma corrente de pensamento sociológica que a análise atenta de suas fontes revelaria. Ainda que isso seja difícil, pois Ratzel, excetuando-se algumas notas e observações, quase não nos fornece referências.
No decorrer de sua obra é relativamente fácil descobrir aquilo que buscou nas ciências naturais, na