Gabriel Garcia Márquez
Gabriel García Márquez
A Revoada
Gabriel García Márquez
A REVOADA
romance
SERPENTE
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EMPLUMADA
QUETZAL EDITORES
A Revoada
SERPENTE
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EMPLUMADA
Gabriel García Márquez
A Revoada
Tradução de António Gonçalves
Quetzal Editores
Lisboa / 1989
Título da edição original:
«La Hojarasca»
A primeira edição desta obra foi publicada por Publicações
Europa-América com o título
O Enterro do Diabo
E quanto ao cadáver do infeliz Polinices, o édito proíbe que o enterrem ou o chorem. Que o deixem insepulto, sem lágrimas, um banquete de carne à mercê das ávidas aves de rapina. O bom Creonte!
Foi isto que mandou anunciar-nos, a ti e a mim; sim, também a mim. E em breve ele próprio virá aqui, para o anunciar aos que ainda o não saibam. A ameaça não é pequena: o castigo dos transgressores será a morte por lapidação na praça pública.
(De Antígona)
De súbito, como se um remoinho se tivesse instalado no centro da aldeia, chegou a companhia bananeira, perseguida pela revoada. Era uma revoada tumultuosa, alvoroçada, formada pelos detritos humanos e materiais das outras aldeias; resquícios de uma guerra civil que cada vez mais parecia remota e inverosímil. A revoada era implacável.
Contaminava tudo com o seu revolto cheiro a gente, cheiro a secreções à flor da pele e a morte recôndita. Em menos de um ano, arremessou sobre a aldeia os escombros de numerosas catástrofes anteriores a ela própria, espalhou pelas ruas a sua confusa carga de detritos. E esses detritos, precipitadamente, ao ritmo convulso e imprevisto da tormenta, iam-se seleccionando, individualizando, até converterem o que foi uma ruela com um rio numa ponta e um recinto para os mortos na outra, numa aldeia diferente e confusa, feita com os detritos das outras aldeias.
A ela chegaram, confundidos com a revoada humana, arrastados pela sua impetuosa força, os detritos dos armazéns, dos hospitais, dos salões
de