Gabi
Nos anos 1930 e 1940, uma fazenda do interior paulista adotou símbolos nazistas como emblema. A propriedade vizinha, pertencente à mesma família, colocou em prática teorias racistas e eugênicas: recrutou 50 crianças órfãs, a maioria negra, para trabalhar em suas terras. A história só veio à tona em 1990, quando um fazendeiro descobriu a primeira pista do caso. Uma briga de porcos derrubou a primeira barreira que encobria uma história existente apenas nas lembranças de velhos personagens. O obstáculo rompido na década de 1990 era a parede gasta de um chiqueiro imundo, os tijolos maciços caídos no chão, antes encobertos pela argamassa, revelaram ao homem a marca inconfundível, cravada no centro de um losango: a suástica nazista. Ao que tudo indica, Osvaldo Rocha Miranda, ex-proprietário, escolhia as crianças do orfanato pessoalmente e as retirava para trabalhar em suas terras sob um contrato de tutelado. O documento tinha o aval tanto do juiz de menores da época quanto da madre superiora da instituição. Os meninos que não fugiram ou morreram permaneceram na localidade entre 1933 e 1945. Nunca receberam salário e, por vezes, eram submetidos a castigos corporais. Trabalhavam na lavoura junto aos adultos. Não tinham nomes, eram chamados por números, e permaneciam sob vigilância constante de um capataz. Este levava consigo instrumentos para castigar fisicamente como a palmatória, os meninos e andava sempre acompanhados de dois cães pastores-alemães adestrados: Fiança e Veneno. Em sua fazenda, os órfãos, mesmo sem ter sapatos, recebiam uniforme de cor verde, engomado, contendo o sigma integralista na braçadeira e no chapéu, para ir a festas nos fins de semana na cocheira da fazenda Cruzeiro do Sul. A história, além de aparecer em vestígios deixados em documentação da época, como o livro de entrada e saída de órfãos no educandário. Em campinas, morou a maior parte dos órfãos que, de um dia para o outro, foram