Futebol e identidade
José Hailton Costa Coelho1
O presente trabalho trata da inserção do negro no futebol brasileiro. Nos primórdios desse esporte, somente segmentos da elite brasileira se envolviam com a sua prática. Os negros não podiam jogar de forma profissional porque existia uma proibição dos clubes de futebol que restringia a sua participação. Devido a essa proibição, chama atenção a estratégia de burlá-la no clube - do Fluminense, quando alguns jogadores entravam em campo (em qual época?) com o rosto coberto com pó de arroz para que a torcida não percebesse que eram negros, ainda que fosse difícil dissimular tal situação.
Para compreender as representações que são construídas sobre a relação entre a prática do futebol e participação dos negros, tomo como referência empírica a presença dos negros em duas copas, a de 1950 e a de 1970, respectivamente. Na primeira, que representa um momento de fracasso do futebol brasileiro, a derrota em pleno Maracanã, na visão de alguns torcedores, é atribuída à falha de dois jogadores negros. Na segunda, que representa a época de ouro de nosso futebol, o Brasil sagra-se tri campeão mundial, tendo na equipe principal vários jogadores negros, entre eles Pelé. Nessa copa, os negros, mostrando todo o seu potencial enquanto profissionais, deixaram de ser demonizados, como na década de 1950, passando a ser glorificados, modificando, assim, aquela representação de desconfiança que existia por parte de muitos torcedores em relação a performance futebolística dos negros.
No desenvolvimento do trabalho, pretendo utilizar as categorias identidade e racismo como balizadora das análises. Assim, o trabalho toma para objeto a seguinte questão: em que medida o que aconteceu nas copas de 1950 e 1970, explica a demonização ou a glorificação do negro no futebol? Essas representações são expressões racistas? Até que ponto a inserção do futebol contribui para a construção de uma identidade positiva por