Fronteiras da europa
Sergio Buarque de Holanda afirma que é significativo o fato de termos recebido uma cultura ibérica, com traços na valorização da personalidade. Para eles, o índice do valor de um homem infere-se, antes de tudo, da extensão em que não precise depender dos demais, em que não necessite de ninguém, em que se baste. Ou seja, um sujeito que é filho de si mesmo, de seu esforço próprio, de suas virtudes.
Afirma então que é desse personalismo que resulta a singular tibieza das formas de organização, de todas as associações que impliquem solidariedade e ordenação entre as pessoas. Em terras onde todos são barões não é possível acordo coletivo durável, a não ser por uma força exterior respeitável e temida. Os privilégios hereditários, que jamais tiveram influência muito decisiva nos países de cultura ibérica, pelo menos tão decisiva e intensa como nas terras onde criou fundas raízes o feudalismo, não precisaram ser abolidos neles para que se firmasse o princípio das competições individuais.
A frouxidão dos laços sociais à falta de hierarquia organizada deve-se alguns dos episódios mais singulares da história das nações hispânicas. Os elementos anárquicos sempre frutificaram aqui facilmente, com a cumplicidade ou a indolência displicente das instituições e costumes. Completa, afirmando que as iniciativas, mesmo quando foram sempre no sentido de separar os homens, não de uni-los. Os decretos dos governos nasceram em primeiro lugar da necessidade de se conterem e de se referirem as paixões particulares momentâneas, só raras vezes da pretensão de se associarem permanentemente as forças ativas. A falta de coesão em nossa vida social não representa, assim, um fenômeno moderno. E é por isso que erram profundamente aqueles que imaginam na volta à tradição, a certa tradição, a única defesa possível contra nossa desordem. Os mandamentos e as ordenações que elaboraram esses eruditos são, em verdade, criações engenhosas do espírito, destacadas do mundo e