Geopolitica
Análise Social, vol. xxvii. (118-119), 1992 (4.°-5.°), 857-869
Transformações geopolíticas na Europa e perspectivas para a integração europeia: um cenário
Numa data recente P. Lellouche1 referia que «a lógica geopolítica que esteve na base do processo de unificação europeia permaneceu a mesma até 1990: consolidar a parte livre da Europa contra o expansionismo soviético na outra metade do continente», colocando em seguida a questão de saber se, com o fim da esfera de influência soviética na parte leste do continente, continuaria a fazer sentido a finalidade europeia ocidental para o processo de integração da Europa. Refira-se que, gradualmente, na última década, à ideia de consolidação da Europa ocidental face ao poder soviético veio acrescentar-se um segundo objectivo para o processo de integração europeia ocidental — criar um terceiro pólo mundial, sede de um dos três blocos comerciais em que o mundo se iria organizar, com suficiente unidade política, diplomática e militar para se afirmar com maior autonomia face aos EUA, nomeadamente nas periferias europeias. O projecto de integração europeia passou, assim, a ter para muitos como objectivo criar um proto-Estado europeu, com a sua moeda, a sua diplomacia e as suas forças armadas. A questão que hoje se coloca é a de saber se, face a um conjunto de profundas transformações geopolíticas na Europa e nas suas periferias, esta concepção do processo de integração europeia será actual, ou seja, possível e necessária. Após se referir, de forma sintética, esse conjunto de transformações, optou-se por concentrar as atenções nas possíveis actuações geopolíticas e geoeconómicas de três Estados decisivos para a futura arquitectura europeia — a Rússia, a Alemanha e a França — para, no final, se referir um cenário para a integração europeia que, tendo em conta os interesses dos dois primeiros Estados, permitisse valorizar a posição de países europeus situados nas margens do Atlântico.
* Economista.