Fourez cap
CAPÍTULO 4 - O MÉTODO CIENTÍFICO: A COMUNIDADE CIENTÍFICA
Um ponto de vista agnóstico sobre a natureza última da Ciência
Examinamos a representação dominante da ciência; ela se caracteriza por uma visão centrada sobre o inelutável ou o necessário: a observação examinaria as coisas tais como são, sem que intervenha nenhum fator humano; as leis seriam tiradas dessas observações e depois verificadas por experiências que obedeceriam a uma lógica e uma racionalidade únicas e claras.
A análise crítica mostrou os limites de semelhante representação: as observações já são construções humanas, os modelos provêm de nossas idéias anteriores, e por meio de uma lógica pragmática e histórica (e não por meio de uma racional idade necessária) que os cientistas decidem rejeitar ou conservar modelos particulares. Essa análise remete as práticas cientificas a sua situação histórica. Ela desmistifica a ciência, pondo em questão a sua a-historicidade, a sua universalidade, a sua absolutez, o seu caráter quase sagrado.
Mostrando a sua historicidade, essas análises não "denigrem" a ciência: elas se contentam em situá-Ia em meio a outras grandes realizações humanas como a arte ou as técnicas. Elas podem, contudo, ser um pouco "chocantes" para aqueles e aquelas que tiverem investido na ciência uma dimensão absoluta, praticamente religiosa, e que esperavam nela encontrar uma certeza ou um absoluto aos quais muitos aspiram em uma sociedade tão mutável como a nossa.
A partir do momento em que se aceita que a racionalidade cientifica não é eterna, mas se associa a uma maneira socialmente reconhecida e eficaz de abordar a nossa relação com o mundo, vemo-nos remetidos a uma reflexão sobre a maneira pela qual essa racionalidade funciona. Não nos situamos mais diante de um conceito abstrato de