Filosofia e literatura
A relação entre filosofia e literatura pertence à história de ambas em sua especificidade e em alguns momentos ambas confundem-se, pois muitas vezes o pensar filosófico se dá na literatura e a literatura refrata os grandes debates desenvolvidos na filosofia. O que nos interessa centralmente no presente artigo não é tanto a delimitação entre a filosofia e literatura, onde iniciaria uma e terminaria a outra, mas o que podemos aprender das “partilhas do saber”, segundo Foucault, presentes em ambas. Alguns estudos sobre filosofia e literatura ainda centram seus esforços em delimitar uma e outra a partir da relação entre conteúdo e forma:
O grande perigo dessas análises, a saber: tornar os filósofos especialistas na invenção de conteúdos teóricos, mais ou menos incompreensíveis, e os escritores, especialistas em formas lingüísticas, mas ou menos rebuscadas.
Assim, só caberia aos escritores e aos poetas traduzir de maneira mais agradável aquilo que os filósofos já teriam pensado de maneira complicada ou ‘abstrata’, como se diz às vezes. No limite, isso significa que os filósofos sabem pensar, mas não conseguem comunicar seus pensamentos, que não sabem nem falar nem escrever bem; e que os escritores sabem falar bem, sabem se expressar, mas não têm nenhum pensamento próprio consistente.
(GAGNEBIN, 2006, p. 202)
Para além desta delimitação que serve sempre a interesses de domínios de reduto, a visões reducionistas tanto nas teorias literárias quanto em algumas abordagens filosóficas, parto do princípio que a poesia – entendida aqui como linguagem fundamental da arte -, a literatura contribui para a própria história do pensamento, é o pensamento em articulação e de grande interesse para outras formas de sua constituição e estruturação, neste caso a filosofia. Pressupõe-se, portanto, a pertença e relação, não o esforço artificial de uma à busca da outra. E isto porque temos várias páginas da história da filosofia e da