Conceito de tempo na filosofia e literatura
O senso comum entende o tempo como um conceito adquirido por experiências. Experiências estas sequenciais e ordenadas. Visto como processo linear e teleológico pelos cristãos, a concepção do tempo tem sido muito discutida desde o início da cultura ocidental. Os cristãos baseiam-se em acontecimentos singulares, como por exemplo, o marco do cristianismo: o nascimento, crucificação e ressurreição de Cristo. São acontecimentos únicos. Também o apocalipse descreve o fim do mundo encerrando um ciclo que não mais irá se repetir. Já a filosofia oriental, apoia que o tempo, bem como o espaço, são construções da mente humana. Acreditam na circularidade do tempo. Esta ideia apareceu naturalmente em função dos inúmeros fenômenos periódicos ocorrentes na Natureza: movimento da Terra, as estações do ano, os dias sendo sucedidos pelas noites... Esses fatos naturais sobre a circularidade do tempo conduziram as civilizações antigas, e seus pensadores a imaginarem que o tempo também seria circular, ou seja, a evolução da natureza seria baseada na repetição. A ideia de um tempo linear progressivo, sem retornos, e a ideia de que o tempo é cíclico marcado pelo devir é discutida não somente na filosofia. Permeia também a literatura.
Considerando que tanto a literatura quanto a filosofia tem o papel de indagar, questionar o que é dado como padrão ou normal, pode se afirmar que literatura e filosofia se complementam, dialogam entre si. Partindo desse ponto, a questão é: qual a perspectiva da literatura sobre essa temática? Como a filosofia e a literatura realizam esse dialogo sobre essas diferentes visões, ocidental e oriental, sobre o tempo? Para discutir essa questão destacarei três autores: Heráclito, Guimarães Rosa e Borges. À primeira vista, pode parecer que nada têm em comum esses três nomes. O primeiro pertence ao início da filosofia, é um filosofo da natureza; outro representa um dos maiores nomes da literatura