Filosofia e globalização
Mario Perniola
A unificação da filosofia europeia – O problema da globalização da filosofia parece-me estreitamente ligado ao de uma língua filosófica comum a todo o planeta. Ele apresentase, por isso, como o retorno a uma condição que a filosofia conheceu durante dois mil anos, na qual esta, felizmente, gozou de uma língua universal, o latim, que, à primeira vista, não parecia adequada a este fim. Desde o De natura rerum de
Lucrécio até à tese defendida por Henry Bergson em 1889
(Quid Aristoteles de loco senserit) passam, de facto, vinte séculos nos quais o latim foi não apenas a língua comum que uniu o mundo ocidental, mas também o idioma no qual, ainda em plena época moderna, escreveram Descartes, Espinosa e
Leibniz. Como se disse, nada fazia prever esta grande fortuna histórica da língua latina, de cuja pobreza e rudeza, em comparação com o grego, se lamentavam Cícero e Séneca, os dois grandes criadores do léxico filosófico latino1
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No momento em que este papel universal é assumido pelo inglês, os três séculos de filosofias nacionais parecem um parêntesis destinado a fechar-se em breve. Contudo, este retorno a uma língua comum desperta muitíssimas dúvidas e importantes interrogações. A condição de uma abordagem metodológica não ingénua à filosofia passa pelo estudo da palavra singular e da comparação do modo como é traduzida nas outras línguas. Muitos termos da linguagem filosófica estão assim tão estreitamente ligados à língua na qual são elaborados conceptualmente que resultam intraduzíveis, ou traduzíveis apenas através de um deslizamento do significado de que é preciso estar consciente. Resulta daí que não há conceito sem palavra: esta última pertence a uma língua específica que nasceu e se desenvolveu historicamente. A palavra singular não é de todo o signo de um conceito, mas está radicada nas línguas. A tal metodologia dedica-se uma grande obra recentemente publicada, o Vocabulaire Européen
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