Filosofia e ciência
A ciência progride pela utilidade, a filosofia por meio do ócio. Este é o senso comum que dirige a mentalidade de nossos gestores do conhecimento. Reitores de universidades, dirigentes de órgãos de fomento à pesquisa, ministros e secretários de instâncias governamentais ligadas à educação e à ciência – a maioria pensa assim. Mas não conseguem me convencer disso. Penso exatamente o oposto. A filosofia só tem sentido pela utilidade, a ciência, pelo ócio.
A chamada ciência aplicada e dirigida a propósitos determinados não é um empreendimento desprezível, mas não é propriamente ela a responsável pelos melhores descobrimentos e invenções. Estatisticamente é possível ver que aquilo que mais se vende em farmácias e drogarias, e que consideramos avanço em nossas vidas, não veio senão como subproduto de determinadas pesquisas. Erro, fuga de direção e, principalmente, lazer foram os elementos que determinaram nosso avanço científico. É verdade para o mundo, é verdade para o Brasil. Cada vez mais os cientistas precisam ser colocados em laboratórios em que a direção das pesquisas permite o desvio de conduta, ou seja, o ócio e até mesmo a “desobediência civil” laboratorial. Ninguém cria o que se propõe a criar – esta é a história da ciência.
Ao contrário da ciência, a filosofia não gera absolutamente nada de interessante ou belo ou agradável ou bom em regime de férias. Não é errado dizer que a filosofia tem a ver, ainda, com a literatura e quando afastada da boemia vira um arremedo de ciência. Mas a boemia necessária à filosofia precisa de disciplina, pulso firme, determinação da vontade. E, mais que tudo isso, a filosofia é uma atividade que só chega a algum lugar se este lugar é determinado previamente. A história da filosofia mostra isso: as grandes obras filosóficas, que são o equivalente, neste campo, às grandes invenções científicas, não se fizeram por meio de alguém que se propôs a escrever algo que não sabia o que era. Nada disso. As grandes