Filosofia da ciencia - resenha critic
Gauss afi rmou: “As soluções, eu já possuo há muito tempo, mas ainda não sei como cheguei a elas”. (p. 145)
Diante dessa afirmação, Rubem Alves questiona: “Como é possível que alguém chegue a um destino sem ter consciência do caminho seguido?” Conclui Alves: “Está em xeque a questão do método, tão cuidadosamente embalada pela ciência. Há, mesmo, certa tendência a identifi car ciência com o método científi co”. (p. 147)
Como a ciência não pode ser defi nida em função de seu conteúdo, pois ele tem sofrido profundas revoluções ao longo da história, é defi nida por seu método.
Que é método? Paul Edwards nos ensina que “o termo ‘método’ signifi ca, literalmente, ‘seguindo um caminho’ (do grego méta, ‘junto’, ‘em companhia’, e hodós, ‘caminho’), refere-se à especifi cação dos passos que devem ser tomados, em certa ordem, a fi m de alcançar-se determinado fi m”. (p. 149)
Mas Gauss, na declaração citada, está declarando: “Cheguei lá sem seguir caminho algum, premeditadamente. Estou pensando para ver se descubro o método...”Karl Popper concorda: “Não existe aquilo a que poderíamos chamar de um método lógico para ter novas idéias”. (p. 150) Michael Polanyi mantém opinião semelhante: “O advento de um pensamento feliz é fruto dos esforços anteriores do investigador, mas não é, em si, uma ação de sua parte. Ao contrário, trata-se de algo que acontece a ele...” (p. 150)
Alves observa que esse ponto de vista é muito perturbador, porque parece equiparar o ato pelo qual um cientista defronta com uma idéia seminal à experiência de iluminação espiritual de místicos e videntes: um ato de graça, uma surpresa, uma revelação.
Feyerabend sugere, claramente, que a idéia de um método científi co não passa de um mito que não resiste à investigação histórica:
A idéia de um método que contenha princípios científicos inalteráveis e absolutamente obrigatórios que rejam os assuntos científicos se defronta com dificuldades ao ser confrontada com os resultados da investigação