Texto sobre Richard Rorty
Richard Rorty foi um fruto especial da América para o mundo. Durante trinta anos ele ocupou o cenário filosófico mundial, mostrando que a cultura de esquerda dos Estados Unidos, mesmo tendo acolhido a Escola de Frankfurt, Foucault e Derrida, podia ainda contar com a sua própria tradição – o pragmatismo.
O objetivo dos escritos de Rorty assustou os tradicionalistas e os conservadores, tanto no âmbito da filosofia quanto no campo da discussão política.
Ao refletir sobre sua própria prática como filósofo-professor, ele ousou dizer – e com conhecimento de causa – que o bom era manter entre alunos e professores o jogo erótico do qual Sócrates foi expert, mas que seria um erro repetir Platão e, a partir daí, tentar construir uma teoria da alma, isto é, uma teoria da natureza humana.
Tanto no campo filosófico-pedagógico quanto no filosófico-político, Rorty foi o defensor do uso ad hoc da teoria. Ou seja, se temos que elaborar narrativas para convencer outros que nossas posições morais, pedagógicas, políticas e culturais são boas, e se queremos sugerir aos nossos vizinhos que utilizem um pouco dessas nossas posições, não há razão para sugeri-las como um experimento senão pelas vantagens que tais posições podem lhes dar. Pouco adiantaria, para tal, dizer aos nossos vizinhos que eles deveriam abandonar suas posições e experimentar as nossas porque as nossas estão baseadas na “vontade de Deus” ou na “ordem da Natureza” ou porque são as que melhor espelham “o Mundo Como Ele É”.
Alguns outros disseram coisas parecidas. Mas não conquistaram os ouvidos dos filósofos americanos. Curiosamente, Rorty se fez ouvir porque os seus colegas sabiam que ele não estava falando sem antes ter amassado o barro