Por que estudar a historia da metafísica
Trabalho produzido para a disciplina História da Metafísica IV, do curso de Mestrado em Filosofia da UFRN, ministrada pelo Prof. Dr. Glenn W Erickson - Aluno: Roberto Solino. Novembro de 2013.
Qual o sentido de se fazer uma pesquisa hoje em dia a respeito do trabalho de filósofos tão antigos quanto Platão e Aristóteles? Gente que viveu há 2.500 anos e cujo mundo era tão diferente do nosso quanto uma roca de fiar o é de uma fábrica têxtil; cujas normas sociais e jurídicas valorizavam como nobres coisas que hoje são consideradas aberrações, como a escravidão e a pederastia; cuja ciência ainda discutia o funcionamento das esferas celestiais e a combinação dos quatro elementos. Qual a utilidade para a filosofia contemporânea de se estudar algo ainda mais antigo, digamos, o fragmento do homem-medida de Protágoras, que floresceu pelo menos meio século antes do próprio Platão? Richard Rorty, no ensaio The historiography of philosophy: four genres, diz que filósofos analíticos tentaram tratar grandes filósofos mortos como contemporâneos, por meio da "reconstrução racional" de seus argumentos, na esperança de dialogar com eles. Sem isso, argumentaram, é melhor entregar a história da filosofia nas mãos dos historiadores – meros “doxógrafos” que não estão em busca da verdade filosófica. Essa atitude, diz ele, levou a acusações de anacronismo, de tentar "adaptar" o pensamento de gente como Aristóteles ou Kant ao debate de temas contemporâneos, como filosofia da linguagem ou metaética, a respeito dos quais aqueles pensadores certamente não se dedicaram. Sobraria assim o dilema de ou impor anacronicamente nossos problemas e vocabulário aos mortos para permitir aquele diálogo ou confinar nossa atividade interpretativa a fazer suas falsidades parecerem menos bobas, contextualizando suas ideias aos tempos obscuros em que viveram.
Rorty considera esse um falso dilema e propõe que devemos fazer sim as duas coisas separadamente,