Visoes da tradiçao sociologica
José Roberto Bonifácio* Muito auspiciosa a iniciativa da editora Martins Fontes de trazer ao público de língua portuguesa “A democracia e seus críticos”. É verdade que a obra, hoje disponível aos pesquisadores brasileiros em seu próprio idioma, foi lançada há quase um quarto de século, ou seja, em uma conjuntura mundial radicalmente diversa da que experimentamos na atualidade. E os antecedentes intelectuais da contribuição que veicula são ainda mais longínquos. Por isso, uma breve contextualização do movimento mais amplo de ideias políticas em que Robert Alan Dahl acha-se inserido ajuda a iluminar melhor o alcance de sua obra intelectual como um todo e de “Democracy and its critics” em particular. Quase um homem centenário, Dahl por certo é um intelectual cuja trajetória se confunde com a da própria disciplina, que ajudou a fundar e a propagar. Dispensa apresentações biográficas. Suas primeiras obras podem ser interpretadas como a maneira tal como repercutiram na agenda da nascente Ciência Política os debates filosóficos travados por pensadores como K. R. Popper1 (1945) e L. Strauss (1959), dentre outros com a precedente tradição historicista representada respectivamente em autores como Hegel e Marx e em Heidegger. A maneira como se identificaram determinadas correntes filosóficas com as ideologias e os regimes políticos das potências derrotadas na Segunda Guerra Mundial (1939-45), bem como o subsequente ordenamento
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Sociólogo (UFES) e Cientista Político (IUPERJ). Professor de Ciência Política e Relações Internacionais (UGF). Email: bonifacio78@gmail.com. “Democracy (...) provides the institutional framework for the reform of political institutions. It makes possible the reform of institutions without using violence, and thereby the use of reason in the designing of new institutions and the adjusting of old ones. (...) It is quite wrong to blame democracy for the political