Fichamento “Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de virtú”
Obra utilizada: “Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de virtú”, de Maria Tereza Sadek
Maquiavel ocupou-se em discorrer sobre o Estado não em sua concepção ideal e imaginária, mas sim em seus desdobramentos reais. Analisando a verdade efetiva das coisas, ele conclui que o ser humano é naturalmente maléfico e incitador do caos, portanto é necessária a construção da ordem política, mesmo que instável, para manter o Estado.
Outro importante fator de instabilidade apontado por Maquiavel é a inevitável presença de duas forças opostas, “uma das quais provém de não desejar o povo ser dominado nem oprimido pelos grandes, e outro de quererem os grandes dominar e oprimir o povo” (O príncipe, cap. IX). O problema político é então sufocar a desordem proveniente da natureza humana e encontrar mecanismos que imponham a estabilidade das relações, ao que Maquiavel sugere inicialmente o Principado, concretizado pela figura do príncipe, e posteriormente a República. O príncipe, portanto, deve agir quando o Estado encontra-se em crise e ameaça de deterioração, buscando instaurar estabilidade suficiente para a possível implantação da República.
Ademais, Maquiavel ironiza o ideal cristão de que a fortuna é um poder divino e que a virtude só pode ser alcançada no céu, preferindo pactuar com os princípios clássicos de que a virtú, sendo composta por tentações mundanas como a força e o poder, é capaz de conquistar a fortuna através da liberdade do homem. Dessa maneira, o poder que nasce da própria natureza humana e encontra seu fundamento na força é redefinido, pois passa a ser determinado pela utilização sábia e virtuosa da força a fim de manter o controle. Assim sendo, o príncipe deve fazer o que for preciso para salvar a nação, pois o que conta é “o triunfo das dificuldades e a manutenção do Estado. Os meios para isso nunca deixarão de ser honrosos, e todos os aplaudirão” (O príncipe, cap. XVIII).