Fichamento - Terra dos Homens - Cap. I

Nosso corpo é orientado: à nossa frente se estende aquilo que nosso olhar descobre. Através dos rumores e dos odores que nos chegam dali, aprendemos o que está atrás. Do lado direito e do esquerdo há zonas que os olhos detectam movimentos, mas captam mal as formas, basta um giro de cabeça para descobri-las. Acima e abaixo da linha dos olhos, para o alto e para o chão. O tato completa o conjunto. Numa planície nua, num deserto ou numa estepe de vegetação rasteira, é fácil substituir as referências móveis da posição do corpo por elementos notáveis: um morro isolado, um rochedo, uma árvore, um bosque, uma casa, uma aldeia, um campanário, um minarete. É fácil escolher o caminho enquanto estes pontos estiverem visíveis . Porém, lá onde os horizontes estão encobertos, é mais difícil se localizar. Roland Pourtier *¹ o explica assim, ao falar da selva do Gabão: […] a floresta, atulhada de árvores, desnorteia tanto quanto a figura negativa que lhe corresponde, isto é o deserto, talvez até mais. […] A floresta não é entretanto impenetrável […]. Contudo, caminha-se com a impressão de que permanece de algum modo no mesmo lugar, cercado pelas mesmas árvores. A floresta mantém uma aparência indistinta: ali, a gente se sente ridiculamente desamparado, desorientado, invalido por não saber se localizar (Pourtier, 1989, p: 148-149). Nunca é um assunto meramente individual: enquanto se baseia no reconhecimento de itinerários já percorridos e na utilização de pontos de referência ou de marcadores distantes, todos dependemos de nossas capacidades de observação e da memorização para não nos perdermos.. É imitando os antepassados que a criança apreende os elementos do ambiente que deve memorizar. Afinal, tratando-se de orientação:… os conhecimentos essenciais à sobrevivência do caçador e da sua família são transmitidos de geração em geração através da educação que o pai dá ao seu filho – ou a seus filhos – durante seis ou sete anos. Esta