Fichamento françois dosse
Introdução
A questão de Santo Agostinho a propósito do tempo: "O que é o tempo? Se ninguém pergunta isso, eu não me pergunto, eu o sei; mas se alguém me pergunta e eu quero explicar, eu não o sei mais." A cumplicidade da velha questão para saber "o que é história?" fica ainda mais acentuada por uma certa deficiência da língua francesa que designa, sob o mesmo vocábulo, o que os vizinhos europeus tem o hábito de diferenciar história de estória, como é o caso dos alemães, italianos, ingleses - um termo designando a trama dos acontecimentos propriamente dita e um outro significando o relato complexo que a narra. O agrupamento desses dois níveis na língua francesa, traduz uma realidade que nos mergulha naquilo que singulariza a disciplina histórica como conhecimento indireto, como saber que só chega até nos por vestígios, tentando preencher uma ausência. Os historiadores franceses, de ofício, perguntavam-se sobre seus métodos, mas viraram as costas a qualquer reflexão de ordem epistemológica. Eles não deixavam de manifestar grandes reticências em relação à filosofia da história.Antoine Prost recorda que segundo o precursor da escola histórica francesa dos Annales, Lucien Febvre, "filosofar" constitui um "crime capital".(p.7) Ao longo do século 19 a disciplina histórica teve uma profissionalização progressiva, depois o diálogo privilegiado com as ciências sociais no século 20 não permitiram aproximar a prática da história do pensamento da história conduzida pelos filósofos.O objeto desta obra não visa instituirum sistema de história nem pretende esgotar o assunto. Modestamente, o objeto se quer como um convite à leitura dos historiadores pelos filósofos, e da filosofia da história pelos historiadores. A junção parece favorável a esta nova aliança entre esses dois domínios vinculados porque o historiador de hoje, consciente da singularidade de seu ato de escritura,