FICHAMENTO DO TEXTO DE MICHEL DE CERTEAU
No discurso onde enceno as questões globais, ela terá a forma do idiotismo: meu patoá representa minha relação com um lugar. Mas o gesto que liga as ideias aos lugares é, precisamente, um gesto de historiador. Compreender, para ele, é analisar em termos de produções localizáveis o material que cada método instaurou inicialmente segundo seus métodos de pertinência. Semelhante dicotomia entre o que faz e o que diria do que faz, serviriaà ideologia reinante, protegendo-a da prática efetiva. Ela também destinaria as experiências do historiador a um sonambulismo teórico. Mais que isto, em história como em qualquer outra coisa, uma prática sem teoria desemboca necessariamente, no dogmatismo de "valores eternos" ou na apologia de um "intemporal".Neste setor, Serge Moscovici, Michel Foucault, Paul Veyne e ainda outros, atestam um despertar epistemológico. Nesta perspectiva, gostaria de mostrar que a operação histórica se refere à combinação de um lugar social, de práticas "científicas" e de uma escrita. Essa análise das premissas, das quais o discurso não fala, permitirá dar contornos precisos às leis silenciosas que organizam o espaço produzido como texto. Toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar de produção socioeconômico, político e cultural. Ela está, pois, submetida a imposições, ligada a privilégios, enraizada em uma particularidade. É em função deste lugar que se instauram os métodos, que se delineia uma topografia de interesses, que os documentos e as questões, que lhes serão propostas, se organizam.
Há quarenta anos, uma primeira crítica do "cientificismo" desvendou na história "objetiva" a sua relação com um lugar, o do sujeito. Analisando uma "dissolução do objeto" (R. Aron), tirou da história o privilégio do qual se vangloriava, quando pretendia reconstituir a "verdade" daquilo que havia acontecido. A história "objetiva", aliás, perpetuava com essa ideia de uma "verdade" um modelo tirado da