O Tecelão dos Tempos
O Tecelão dos Tempos: o historiador como artesão das temporalidades por: Durval Muniz de Albuquerque Júnior Professor Titular de Teoria da História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
“Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe este grito que ele e o lance a outro; de outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos”. (Tecendo a manhã, João Cabral de Melo Neto)
Michel de Certeau pergunta: o que fabrica o historiador quando faz história? Querendo com isto ressaltar que o que faz o historiador é um trabalho; um trabalho de fabricação de uma narrativa, de um artefato escriturístico; um trabalho de fabricação dos acontecimentos do passado. Querendo com isto dizer que a historiografia é produto de uma operação, de uma atividade de atribuição de sentido aos eventos; a historiografia seria uma maquinaria narrativa que usinaria o passado, buscando dar forma à mecânica que aceitaria os processos que se desenrolaram em dado tempo e espaço. Karl Marx, muito antes de Certeau, já havia falado do motor da história, da mecânica social, a qual caberia ao historiador, usando como instrumento o materialismo histórico, desvendar, enunciar, fazer aparecer em suas engrenagens mais sutis. Embora tenham escrito seus textos em séculos distintos, Marx e Certeau parecem partilhar algumas metáforas, alguns topos lingüísticos, algumas imagens-símbolo da sociedade moderna, da sociedade industrial, quando se trata de pensar a atividade do historiador e as tarefas que este teria a cumprir socialmente. Nos dois autores, a historiografia, o texto de história, aparece como produto de uma atividade de manufatura, como uma atividade que remete ao maquínico, mesmo que seja em