fichamento de florestan fernandes
Neste momento, Fernandes critica fortemente o movimento abolicionista – aponta que o projeto abolicionista não propõe ruptura com o modelo então instituído de relação entre as raças. Mesmo os maiores nomes do movimento – em especial Patrocínio, “visto por Nabuco como a encarnação do espírito revolucionário do abolicionismo” – persegue a manutenção do status quo ante. Símbolos do movimento em São Paulo, núcleo que serve de espaço do estudo, que em outros momentos lutaram e incentivaram posturas combativas, atuaram neste sentido conservador no período pós-abolição. A postura do Partido Republicano reforçara essa posição conservadora.
A aristocracia paulista, diante desta nova distribuição, deixou claro seu despreparo para encarar os naturais enfrentamentos que surgiriam após a extinção do regime escravocrata. O grupo dominante carecia de experiência para “manipulação democrática dos problemas sociais” – durante todo período imperial, a aristocracia não aprendeu a lidar com os movimentos sociais e as suas pautas, muito menos com o equilíbrio e com ânimo construtivo. Evidente que o cenário não mudou com a instituição da República. Agravava a situação a percepção conservadora de que a “paz social” era algo monolítico. Qualquer fosse o motivo que levasse a qualquer grau de contestação a ela levaria irremediavelmente, na visão dos aristocratas, à ruína da Nação. As questões sociais, antes de serem vistas como caso de política, eram caso de polícia, e a defesa de repressões violentas aos movimentos eram estimulados. Qualquer semelhança com os editais dos jornais Folha de São Paulo e Estado de São Paulo, durante os momentos iniciais das reinvindicações pela redução na tarifa na capital paulista, em meados de junho deste ano, não é mera coincidência. Aqui revela-se como o estudo de Fernandes é contemporâneo, e nos auxilia a ler os novos acontecimentos.
Dado o fato de que as mudanças – abolição da