Fhc- teoria sociologica
O presidente secundado pelo sociólogo: qual sociologia?
Esta rápida consideração do trabalho sociológico e da carreira política recente de Fernando Henrique Cardoso, que sem dúvida alguma exigiria desenvolvimentos mais extensos, permite ao menos constatar que as disposições e os capitais mobilizados para abrir o caminho para a presidência da República não são de forma alguma os mesmos que aqueles empregados para construir os trabalhos sociológicos que asseguraram seu prestígio científico. O exame de suas publicações constitui o indicador mais nítido da política como carreira escolhida nos últimos 25 anos: se todas as obras anteriores a 1978 mostram uma preocupação constante com a constituição do material empírico que permita demonstrar as teses sociológicas sustentadas pelo autor, as publicações do período posterior limitam-se a reunir todos os argumentos capazes de justificar as tomadas de posição e as ações no campo político. Não se trata aqui de sublinhar o caráter ideológico desses escritos, mas de entender que eles estão a serviço de outro objetivo que não o de dialogar com seus pares, cientistas sociais. Seguramente não foi graças aos seus esforços intelectuais que Fernando Henrique abriu o caminho de seus sucessos eleitorais; como a entrevista citada no começo deste artigo assinala, a maior parte do tempo do mandato presidencial foi consagrada a assegurar a confiança de eventuais aliados políticos e a reforçar suas chances eleitorais, como todo especialista da política.
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