Feto no Útero
Centenas de desenhos do corpo humano estão expostos até Outubro no Palácio de Buckingham, em Londres. Mostram um Leonardo da Vinci que é muito mais um cientista do que um pintor.
Dissecava corpos à luz de velas, durante horas a fio, com um pedaço de pano a tapar-lhe o nariz e a boca para suportar o cheiro e evitar infecções. Leonardo da Vinci era tão obcecado pelo rigor quando retratava a mulher de um mercador florentino como quando fazia a autópsia a um desconhecido numa universidade para depois lhe desenhar os músculos e os órgãos. O seu grau de exigência era o mesmo, assim como o seu desejo de perfeição.
Se hoje o conhecemos mais como pintor do que como cientista, é porque Leonardo (1452-1519) nunca publicou os estudos anatómicos a que dedicou grande parte dos últimos anos. E se estes seus desenhos não tivessem permanecido escondidos durante 400 anos, é bem possível que a medicina tivesse evoluído de forma diferente. É pelo menos esta a convicção do comissário da exposição Leonardo da Vinci: Anatomista, que até 7 de Outubro mostra na galeria do Palácio de Buckingham, em Londres, um dos cadernos de notas do mestre, inteiramente dedicado ao estudo do corpo.
"Leonardo seria visto como um dos grandes cientistas da renascença e um dos grandes anatomistas de todos os tempos. O seu trabalho teria sido a mais importante obra de anatomia jamais publicada", disse Martin Claydon ao diário The Guardian, referindo-se ao caderno de notas que entrou para a coleção real britânica no século XVII e que só viria a ser estudado já no século XX.
Não é a primeira vez que se faz uma exposição com desenhos anatómicos de Leonardo - a Royal Academy organizou uma em 1977, lembrou Alastair Sooke, crítico do jornal The Telegraph - mas esta é a mais completa até hoje. Tirando partido da atenção que a pintura do mestre recebeu recentemente com oblockbuster da National Gallery de Londres e com a bem mais modesta exposição do Museu do Louvre (até 25 de Junho), a Royal