Fernão de Magalhães
De quem é a dança que a noite aterra? Quem Dança?
São os Titans, os filhos da Terra, São os titãs, deuses filhos da terra
Que dançam da morte do marinheiro Que comemoram a morte do marinheiro
Que quiz cingir o materno vulto – Magalhães que quis rodear a Terra com os braços
Cingil-o, dos homens, o primeiro –, Sendo o primeiro a fazê-lo
Na praia ao longe por fim sepulto. Mas ele está ao longe morto e enterrado.
Análise contextual: Revela a gora Pessoa a identidade das “sombras que dançam”, são os titãs. Os titãs eram gigantes, filhos de Urano (o céu) e Gaia (a “Terra”). Os titãs comemoram a morte de Fernão de Magalhães na sua dança esquisita (“dançam da morte do marinheiro”). Isto porque Magalhães quis “cingir o materno vulto”, ou seja, quis abraçar todo o perímetro do planeta (Gaia, mãe dos titãs) na sua viagem. Quis ser “dos homens o primeiro”, mas este “na praia ao longe por fim sepulto”, e isso serve de motivo de celebração para os gigantes, que se regozijam pela morte daquela ameaça. Regozijam-se também com o fracasso.
Terceira estrofe:
Dançam, nem sabem que a alma ousada Dançam ignorando que (a alma de) Magalhães
Do morto ainda commanda a armada, A morte não impediu, deu ânimo para que a armada continuasse
Pulso sem corpo ao leme a guiar A sua memória continuou a liderar (figurativamente)
As naus no resto do fim do espaço: Pelo resto da viagem
Que até ausente soube cercar Até que, na ausência do capitão
A terra inteira com seu abraço. A Terra foi finalmente circunvagada
Análise contextual: A tragédia das duas primeiras estrofes esbate-se nesta terceira. Isto porque Pessoa revela-nos um Magalhães ainda vivo, mesmo se em memória. “Dançam, nem sabem que a alma ousada / Do morto ainda commanda a armada,”. Além da sepultura, Magalhães troça das comemorações dos titãs que, demasiado cedo, se