“Lembranças, que lembrais meu bem passado”
No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titãs, os filhos da Terra
Que dançam da morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto-
Cingi-lo, dos homens, o primeiro-
Na praia ao longe por fim sepulto.
Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.
Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.
Fernando Pessoa, A Mensagem
Estrutura externa:
O poema apresentado (Fernão de Magalhães) é o oitavo poema da segunda parte, Mar Português, que está relacionado com as descobertas.
Aspectos formais:
O poema está dividido em quatro estrofes de seis versos cada (sextilhas).
Os versos têm uma estrutura métrica irregular, possuindo quatro sílabas métricas (tetrassílabos), oito sílabas métricas (octossílabos) nove sílabas métricas (eneassílabos) ou dez sílabas métricas (decassílabos).
A rima é emparelhada nos primeiros dois versos e cruzada nos ultimos quatro, o esquema rimático é então aabcbc.
Estrutura Interna:
Análise do poema:
Este poema não nos fala directamente dos feitos de Fernão de Magalhães, mas sim da sua morte, fazendo-se assim uma espécie de contabilização da valia da sua vida.
Para entendermos melhor este poema, é necessário saber que Magalhães foi morto em combate pelos Nativos de Mactan, nas Filipinas.
A primeira estrofe do poema é bastante descritiva, apresentando uma caracterização de um ritual, (com “uma dança” que “sacode a terra inteira” e uma “fogueira”) para festejar a morte de Magalhães, do local onde se passa o ritual (“no