Fernando Pessoa
Vivendo sobretudo pela inteligência e imaginação, o discurso poético pessoano afirma-se a partir da aprendizagem de não sentir senão literariamente as “cousas”, ou seja, em fingir sentimentos, até mesmo os que verdadeiramente vivenciamos. No momento de produção literária/poética, o poeta finge sentimentos, emoções, não deixando, no entanto, de haver verdade, só que essa verdade, essa sinceridade é artisticamente trabalhada.
Linhas temáticas:A poesia de Fernando Pessoa ortónimo gira em torno do binómio sentir/pensar que desencadeia a dialética consciência/inconsciência.
A dor de pensar: Consciente de que o pensamento/ o intelectual traz dor, o poeta procura a inconsciência dos sentidos, desejando ser como os seres simples (“Ela canta, pobre ceifeira”) ou os animais que se reagem pelos instintos(“Gato que brincas na rua”).
A nostalgia de infância: A infância longínqua, quando foi pré-consciente, é outro dos seus anseios e fugas para ser feliz. Infância é sinonimo de inconsciência, segurança, pureza e felicidade. Nesta temática estão inseridos os poemas Não sei, ama, onde era, Pobre velha música! ;O Menino da Sua Mãe e Tomámos a Vila Depois de um Intenso Bombardeamento).
A fragmentação do eu: o poeta sente-se constantemente dividido entre ele e a vida, entre o real e o ideal, entre a consciência e a inconsciência, entre o ser e o não-ser. Sente-se múltiplo com vontade de se desagregar, ser outro, dividir-se
O tédio e o cansaço de viver: A incapacidade de permanecer no mundo dos sentidos e a impossibilidade de alcançar os seus sonhos e o seu ideal, traz-lhe o tédio, o sofrimento. Sente que a vida é um projeto falhado que lhe traz a desilusão.
O fingimento: “O poeta é um fingidor”. Para o poeta tudo é intelecto, tudo é pensado, a emoção nunca é pura. A própria poesia é sempre o resultado de uma trajetória intelectual e nunca a passagem direta da emoção para o texto. O fingimento é a raiz da criação artística. Nesta