Fernando pessoa e suas pessoas
Fernando Pessoa e suas “pessoas”
“A vida é uma luta para lembrarmos o que já sabíamos antes.” (Boécio)
(PSEUDÔNIMO X HETERÔNIMO)
Fernando Pessoa concebia seus heterônimos não apenas como vozes poéticas, mas como indivíduos completos, com hábitos, fisionomias, tipos físicos e psicológicos específicos.
Como tudo começou?
Fernando Pessoa tinha apenas 6 anos, quando entrou em crise existencial e, necessitando confidenciar seus problemas psicanalíticos a alguém, escreveu uma carta a um amigo seu distante, um tal de “Chevalier de Pas”, residente em Paris. (detalhe: O senhor Chevalier de Pas não existia: era fruto da sua imaginação) Era o início de seus heterônimos. Sabendo que não receberia uma resposta, Fernando Pessoa incorpora o próprio Chevalier de Pas e responde à sua própria carta.
Anos mais tarde, chegando em casa, de madrugada, debruçou-se sobre uma cômoda e começou a escrever um longo poema: “O Guardador de Rebanhos”. Ao terminar, exclamou triunfante: - Acabei de criar Alberto Caeiro!
Na mesma posição em que se encontrava, debruçado sobre o mesmo móvel, começou a escrever outro longo poema, dividido em 6 grandes partes ao que deu o título de “Chuva Oblíqua”. Em seguida disse para si mesmo: - Escrevi “Chuva Oblíqua” para mostrar a Alberto Caeiro que eu, Fernando Pessoa, também sei escrever.
Chuva Oblíqua
[8-3-1914]
I
ATRAVESSA esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...
O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...
Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
O vulto do cais é a estrada